A China realmente caiu na boca do povo seja para o bem ou para o mal, ainda mais depois que algum descuidado resolveu colocar o primo do Batman na sopa. O fato é que ninguém pode desprezar aquele pais. A maioria dos insumos de nossas indústrias vem de lá e não só os nossos. A China exporta para a Ásia, Europa, estados Unidos e para o “resto”do mundo.
No final de 2019, Fátima e eu resolvemos conhecer o pais de Mao Tsé-Tung aproveitando uma promo da Qatar Airways e voamos até Hangzhou ( Rang Diu na língua local) onde iniciamos uma viagem de aproximadamente 6000kms dentro do pais.
A China ainda é um mistério para os brasileiros e cheia de paradoxos. Povoa nosso imaginário e não fazemos ideia dos sons, aromas, sabores e paisagens bem como o dia a dia de seu povo, bem diferente do que acostumamos ver no Shopping 25 de Marco em São Paulo, onde misturam-se chineses, coreanos, filipinos e outros asiáticos na disputa pelo fleguez em um ambiente lotado, barulhento e insalubre.
Nossas surpresas começaram quando descobrimos antes de embarcar que todos os produtos do Google são bloqueados: Gmail, Google Maps, Youtube e Google Tradutor, por exemplo. Nada funciona em uma conexão convencional, assim alugamos um roteador portátil que nos foi entregue no hotel pelo correio e usamos VPN que instalamos antes de sair do Brasil a fim de contornar esse problema.
Apesar de de todo o comércio o chinês é um povo fechado para o mundo. Com exceção de Pequim nenhuma cidade possui indicações ou placas em inglês. Todas as informações são em mandarim e poucas pessoas falam alguma coisa compreensível na língua de Tio Sam.
Salve o Waze que nos orientou,
inclusive quando pegávamos ônibus sem entender a placa destino, e acompanhávamos a evolução do trajeto para ver se estávamos no caminho certo.
Fátima, apesar de sua aparência frágil sempre foi muito corajosa. Viajar comigo de forma autônoma, sem contratar guias, para países exóticos faz parte de nossa experiência em conhecer o mundo sem filtros, o que cobra o preço em perrengues.
Hangzhou é uma cidade cosmopolita, bastante poluída e barulhenta mas com um lindo e gigantesco lago no centro da cidade, onde as pessoas reúnem-se para divertir ou simplesmente ver o por do sol.
É nítida a diferença de sua população para o resto do país, e foi a única cidade que não observamos o hábito comum dos chineses de escarrar nas ruas com a maior naturalidade. As pessoas são cordiais, e se esforçam em ajudar estrangeiros, embora sem muito sucesso.
Os aplicativos de tradução local, nos moldes do Google tradutor servem para fazê-los crer que é suficiente para se comunicar, e portanto desnecessário estudar a língua e costume. A tradução é literal sem considerar o contexto ou espírito da coisa….
De Hangzhou viajamos para Zhangjiajie ( Dian Diai Diei) na província de Hunan. Local maravilhoso onde se localizam o Zhangjiajie National Forest Park, Tianmen Mountain National Forest Park, The Grand Canyon of Zhangjiajie. É incrível a chegada no Portão do Paraíso, (Havens`gate), e o Canyon onde está instalada a famosa ponte de vidro, a mais extensa do mundo.
Foi em Zhangjiajie que peguei um resfriado e uma tosse seca que me obrigou a buscar ajuda médica em um hospital local, e foi divertido ser atendido por uma médica que não me entendia e explicar por mímica o que acontecia. Melhor foi ela explicar a receita, e o modo de usar os remédios da medicina chinesa. Sai de lá com dois frascos e uns comprimidos que ao chegar no hotel o google tradutor me informou que se tratava de uns preparados de plantas locais com a finalidade de fortalecer o pulmão e esquentar o organismo.
Por falar em esquentar, esse é um tópico comum na população chinesa. Todos, independente de idade andam com uma garrafa térmica e tomam água quente o dia inteiro. Motoristas de ônibus dirigem ingerindo água quente, e correm muito. Dois goles de água, cinco buzinadas, dois goles de água, seis buzinadas…e assim faz seu trajeto. Nos locais públicos como hotéis, aeroportos, rodoviárias estações de trem não existem bebedouros com água gelada, ou se existem estavam escondidos, embora fosse verão, alta umidade e media de 40 graus centígrados. Aquecedor para água tem em todos os cantos.
Comidinhas:
Nos primeiros dias fomos a um simpático restaurante, onde uma senhorinha sorrindo nos mandou sentar e trouxe o cardápio. Fátima estava ansiosa, preocupada pois tem um gosto seletivo e limitado aqui no Brasil. Esperávamos encontrar algum alimento não muito estranho para o almoço. Foi nessa hora que entendemos que não basta saber se é frango, peixe ou carne…. Na China o alimento é poético e servido em prosas e verso.
Tentei descontrai-la : - Não se preocupe vamos traduzir o cardápio e o google vai nos dizer do que se trata e faremos o pedido. Começamos a traduzir usando a câmera do celular naqueles caracteres indecifráveis, quando descobrimos que não ia ser fácil.
Cardápio Traduzido:
Pedaços de 熊猫 Xióngmāo a sereníssima
moda do paraíso escarlate.Porção honorável
de Báifàn a moda do magnifico
Zhànshì celestial.
Frango misericordioso preparado com alguma
coisa indecifrável servida com iluminação
e alegria. - ahahahah
Rir para não chorar! Apontamos o dedo na
primeira linha e pedimos….
Seja o que Deus quiser.
Em outras vezes usamos mímica e conseguimos
pedir um peixe frito.
A cozinha era aberta e podíamos ver a
cozinheira prepará-lo.
Um Peixe maravilhoso frito na chapa de ferro,
meus olhos brilhavam em saber que
iríamos comer um peixe decente, fritinho
sequinho.
ASSIM que terminou de fritá-lo, ela colocou o
peixe um um refratário, nos olhou
carinhosamente e sorrindo despejou
uma chaleira com um caldo quente amarelado
por cima, destruindo completamente
nosso sonho de comer um peixinho.
MEU PAI!!! Por via das duvidas passamos a
comer em self-service, onde podíamos ver o
que comeríamos para não ter maiores
surpresas.
De Zhangjiajie fomos para XIÀN conhecer os
soldados de Terracota,
lindos e reflexivos. O que faz um Imperador
mandar construir um exército com milhares de
estátuas para enterrá-lo em seu túmulo?
Foi perto da muralha de Xian onde avistamos
alguns Óvnis.
Pequim é cosmopolita e tradicional, com
suas avenidas maravilhosas com lojas Prada,
HB, Apple e outras grifes que foram inseridas
no moderno comunismo e contrasta com
a a tradição da cidade proibida.
Também constatamos que a maioria da frota
é de carros importados e elétricos, BMW,
Mercedes, Toyota, Honda, Land Rover,
Ferrari e Volvo.
Tiggo e JAC Motors eles fabricam mas não
gostam e exportam para o Brasil.
Vimos e sorvemos tantas imagens e sons
que deixam saudades, como a beleza da
Praça da paz celestial, grande muralha,
ou a forma encontrada pelo governo de
manter a população rural longe da
cidade, empregando algumas pessoas
como cobradoras de ônibus, que param
no meio do nada, perto de alguma casa
rural para que possam
trabalhar e cobrar os passageiros que
não usam a tecnologia do weechat
para pagar sua passagem,
evitando-se o assim o êxodo rural.
Hoje acordei de mal humor em Paraty.
Sai para comprar pão e no caminho fui
refletindo sobre a atual situação. Estou
há mais de 15 meses sem pisar em um
aeroporto, sem fazer um check-in,
sem entrar em uma aeronave. Se o COVID
veio da China, também é
de lá que vem o IFA que fará as vacinas, bem
como a CORONAVAC, as máscaras que estou
usando, e que me faz bufar em razão de uma
caminhada mais rápida.
Não posso reclamar, caminho na avenida
da praia, olhando o mar e observando alguns
moradores caminhando pela ciclovia.
Lembrei de nossa viagem e fico imaginando
que eles não viram nada disso, e provavelmente
nem sabem onde a fica a China. Não sabem
que estamos na pandemia, que existe o
Covid, que tem de manter distanciamento e
usar essa coisa que me sufoca.
Aliás observei também, depois de cruzar
umas trinta pessoas, que o único de máscara
era eu.
A ignorância é realmente uma grande bencão.
Adoreiii.. precisanos nos encontrar para ouvir mais histórias!!! Deve ter muitas!!! Beijos na Fátima pelo dia!!
ResponderExcluirMais um brilhante texto do irmão. Parabenizo-o por nós trazer pra perto suas lembranças tão distantes.
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